A partir de relatos orais da tradição cultural, Hércules Azevedo resgata costumes de um jeito de ser e existir que pareciam perdidos à medida que o processo de urbanização foi tomando corpo na sociedade. Noções como acolhimento, compartilhamento e hospitalidade são características da tradição brasileira que ressurgem nas linhas desta obra, em um banquete imagético. A preservação da memória e o hábito de contar histórias servem de base para o leitor degustar os elementos da formação cultural contados pelos moradores locais, em particular por Zé das Folhas, personagem central da trama que facilmente podemos encontrar no Nordeste do Brasil com os mais variados nomes, lutando pela sobrevivência de sua matriz étnica e cultural. O texto é recheado de eventos que nos remetem a um passado que precisa ser conhecido. Por isso é preservado pela obstinada ação de cantadores, contadores de causos, poetas e declamadores que, com sua arte, seu corpo e sua voz, nos mantêm conectados com nossas raízes culturais mais profundas.
