Enterre-me
As cores representam nossos sentimentos, mas não no sentido austero do senso comum, e isso porque, para ela, o vermelho não representava o amor, mas a dor. O amor, sim, era negro, como minha pele e meus olhos, como a imagem que víamos quando nos beijávamos e como o céu noturno que apreciávamos deitados no capô do carro, em completo sigilo. Mas desde que a matei acidentalmente no solstício de verão, não vejo cor alguma, senão o cinza apático. Deixei de me interessar pelo mundo, pela Cratera de Baltimore e pelos estudos de meu idolatrado físico, Vincent Willford. Deixei de visitar o cemitério. Nunca fui lá para vê-la, porque de nada adiantaria levar flores a alguém que não agradeceria, porque estava morta. Eu me tornei esse jovem empedernido que nada evolui, mas nada mais também decai. Estou com meu lócus no muro à frente, e ele é cinza. Não procuro ou me empenho em contorná-lo ou enfrentá-lo, porque me é cômodo essa nova forma de experienciar o que restou da vida. Eu não pude estar no velório dela, mas foi melhor assim. Para não a enterrar, eu enterrei minhas cores – meus mais profundos e sinceros sentimentos. Dessa maneira, eu posso sobreviver sem me desfazer em tonalidades aterradoras, que nunca a trarão de volta aos meus braços. No entanto, minha sanidade mental veio me alertar que, por mais que eu não seja colorista, ainda há em mim o que tanto me empenhei em enterrar no fundo de meu âmago, mas isso eu não desejo reaver em hipótese alguma. Abstenho-me dos sentimentos, se isso significar não a enterrar. Eu só não posso e não quero enterrá-la.
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As cores representam nossos sentimentos, mas não no sentido austero do senso comum, e isso porque, para ela, o vermelho não representava o amor, mas a dor. O amor, sim, era negro, como minha pele e meus olhos, como a imagem que víamos quando nos beijávamos e como o céu noturno que apreciávamos deitados no capô do carro, em completo sigilo. Mas desde que a matei acidentalmente no solstício de verão, não vejo cor alguma, senão o cinza apático. Deixei de me interessar pelo mundo, pela Cratera de Baltimore e pelos estudos de meu idolatrado físico, Vincent Willford. Deixei de visitar o cemitério. Nunca fui lá para vê-la, porque de nada adiantaria levar flores a alguém que não agradeceria, porque estava morta. Eu me tornei esse jovem empedernido que nada evolui, mas nada mais também decai. Estou com meu lócus no muro à frente, e ele é cinza. Não procuro ou me empenho em contorná-lo ou enfrentá-lo, porque me é cômodo essa nova forma de experienciar o que restou da vida. Eu não pude estar no velório dela, mas foi melhor assim. Para não a enterrar, eu enterrei minhas cores – meus mais profundos e sinceros sentimentos. Dessa maneira, eu posso sobreviver sem me desfazer em tonalidades aterradoras, que nunca a trarão de volta aos meus braços. No entanto, minha sanidade mental veio me alertar que, por mais que eu não seja colorista, ainda há em mim o que tanto me empenhei em enterrar no fundo de meu âmago, mas isso eu não desejo reaver em hipótese alguma. Abstenho-me dos sentimentos, se isso significar não a enterrar. Eu só não posso e não quero enterrá-la.
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As cores representam nossos sentimentos, mas não no sentido austero do senso comum, e isso porque, para ela, o vermelho não representava o amor, mas a dor. O amor, sim, era negro, como minha pele e meus olhos, como a imagem que víamos quando nos beijávamos e como o céu noturno que apreciávamos deitados no capô do carro, em completo sigilo. Mas desde que a matei acidentalmente no solstício de verão, não vejo cor alguma, senão o cinza apático. Deixei de me interessar pelo mundo, pela Cratera de Baltimore e pelos estudos de meu idolatrado físico, Vincent Willford. Deixei de visitar o cemitério. Nunca fui lá para vê-la, porque de nada adiantaria levar flores a alguém que não agradeceria, porque estava morta. Eu me tornei esse jovem empedernido que nada evolui, mas nada mais também decai. Estou com meu lócus no muro à frente, e ele é cinza. Não procuro ou me empenho em contorná-lo ou enfrentá-lo, porque me é cômodo essa nova forma de experienciar o que restou da vida. Eu não pude estar no velório dela, mas foi melhor assim. Para não a enterrar, eu enterrei minhas cores – meus mais profundos e sinceros sentimentos. Dessa maneira, eu posso sobreviver sem me desfazer em tonalidades aterradoras, que nunca a trarão de volta aos meus braços. No entanto, minha sanidade mental veio me alertar que, por mais que eu não seja colorista, ainda há em mim o que tanto me empenhei em enterrar no fundo de meu âmago, mas isso eu não desejo reaver em hipótese alguma. Abstenho-me dos sentimentos, se isso significar não a enterrar. Eu só não posso e não quero enterrá-la.

Product Details

ISBN-13: 9786525443270
Publisher: Viseu
Publication date: 03/06/2023
Sold by: Bookwire
Format: eBook
Pages: 458
File size: 1 MB
Language: Portuguese

About the Author

Nascida em 1997 na cidade de Campinas/SP, Marcela Monaco sempre se interessou pela literatura e pelos livros. Mais do que isso, ela sempre se interessou em mergulhar na vivência dos outros, como se assim pudesse dar uma espiada em um mundo diferente, da mesma maneira como espiamos e vivenciamos outros mundos e outras histórias ao lermos. Dessa forma, a autora foi uma criança muito centrada na observação do ser humano, com a mente e o corpo voltados para a área artística – tanto escrita, quanto desenhada e pintada. Ela cresceu lendo e desenhando sempre que podia e tais formas de arte a ajudaram a elaborar vários lutos que enfrentou durante a vida, sendo o mais difícil deles, o do pai – falecido em 2010 quando ela tinha apenas 12 anos. Desde então, a observação do ser humano passou a ser mais do que apenas um hobby, mas uma maneira de tentar compreender processos complicados, como aquele que ela viveu. Ao final do ensino médio, após enfrentar épocas sombrias e cinzentas, Monaco decidiu cursar faculdade. A princípio tentou Direito, mas logo largou por não se encontrar na área ao não ter o contato que gostaria de ter com as pessoas. Ela se dedicou à escrita durante essa época e decidiu, em 2017, cursar Psicologia na Universidade Paulista (UNIP), curso em que se graduou em dezembro de 2021. Marcela Monaco atende na clínica de forma remota, principalmente demandas que ela conheceu na pele, como depressão e ansiedade.
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